O significado dos 15 anos de ASA pela Coordenação Executiva

Gleiceani Nogueira - Asacom

Há 15 anos o sonho de construir um Semiárido viável, a partir da valorização do saber do seu povo, uniu diversas entidades e movimentos sociais na formação da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). Durante sua trajetória, a ASA conseguiu pautar o Semiárido e a convivência na perspectiva de políticas públicas. Esse é um dos aspectos marcantes na sua história, assim como a construção de uma nova imagem do Semiárido, mostrando que é ela é uma região viável e produtiva, contrapondo-se a imagem negativa simbolizada pela terra rachada, gado morto e pessoas infelizes. Hoje, as imagens do Semiárido não são as mesmas. A região passou a ser mostrada de dentro pra fora, sob a ótica de um povo que passou a sentir orgulho de dizer: eu sou agricultor, eu sou agricultora, eu sou do Semiárido! Outro aspecto fundamental, que mantém a rede viva e pulsante, é a capacidade de se manterem unidos, mesmo na diversidade que está presente nos rostos, nos debates e nas lutas das diversas organizações e pessoas que formam a ASA.  Essa história é escrita por muita gente, entre elas, a Coordenação Executiva da ASA, formada por representantes das ASAs Estaduais. Cada coordenador e coordenadora falou do significado desses 15 anos. Confira abaixo os depoimentos.

ASA Alagoas - “Pensar o que significa 15 anos de ASA, primeiro vem pra mim, a construção de uma identidade dos diversos rostos que existem no Semiárido. Vejo também a ASA, nesses 15 anos, enquanto garantia das diversas vozes, dos diversos povos que temos nesse Semiárido. Cada um tem sua identidade, mas juntos formamos uma unidade naquilo que é comum a todos. E junto a isso a gente busca as políticas e fazemos juntos a gestão, que não é fácil, mas a gente aprendeu a fazer esse exercício. Então pra mim é isso, é o fortalecimento de uma região, de um território, onde tem uma diversidade enorme e o respeito do que é mais íntimo de cada um". (Maria de Lourdes, da COPPABACS e da coordenação da ASA pelo estado de Alagoas) 

ASA Bahia - “Uma dimensão importante nesses 15 anos é que conseguimos construir, incidir e executar políticas. Nós não ficamos nos projetinhos, nas coisinhas miudinhas. Nós fomos assumindo desafios cada vez maiores e foram sendo colocados pra nós desafios grandiosos. E nós fomos capazes de angariar parcerias das mais variadas. Então vamos falar aí na Febraban [Federação Brasileira de Bancos], no Consea, nos vários Conselhos, vamos falar de parcerias das mais variadas que conosco construíram uma dimensão da convivência com o Semiárido. E mais do que isso construíram a dimensão de uma política de captação de água pra convivência com o Semiárido assinada pela Presidência da República. Não é uma conquista pequena, é uma conquista grande. Olhando o estado da Bahia, a gente se sente muito orgulhoso de integrar a ASA nacional e integrar a ASA mudou a vida das organizações da Bahia. Nós hoje somos um grupo de organizações coeso, nós caminhamos coesamente, naturalmente com nossas divergências, e com nossos debates e questões, mas nós enfrentamos o governo, nós fazemos proposição, nós fazemos debates, e as organizações se sentem orgulhosas de integrar a ASA e de construir essa perspectiva de convivência com o Semiárido”. (Naidison Baptista, do MOC e da coordenação da ASA pelo estado da Bahia)
ASA Maranhão - “Nós do Maranhão nos sentimos honrados em participar dessa coletividade, apesar dos encontros e desencontros, a gente tem a sensibilidade de compreender que a ASA Brasil não é só a questão de conquista de projeto e sim a unificação dos 10 estados que estão totalmente interligados e discutem e debatem políticas públicas e a viabilidade para o home do campo. E nos sentimos honrados nesse sentido porque compreendemos que a ASA Maranhão contribui direta ou indiretamente para a construção de políticas públicas para o Semiárido”. 
(Juvenal Neres, coordenador da ASA pelo estado do Maranhão) 
ASA Minas - “Manifestamos o desejo coletivo de construir uma rede de solidariedade, baseada em uma nova forma de se organizar e vivenciar espaços de poder, através da descentralização, da conectividade, da autonomia, da transparência, da cooperação, da fraternidade, do saber partilhado, das lutas, resistências e enfrentamentos, encarnada em cada comunidade, cada grupo, cada organização, que desperta nosso olhar e nos motiva a defender a vida, a água, a terra, o alimento e os direitos dos povos do Semiárido”. 
(Valquíria Lima, da Cáritas Regional Minas Gerais e da coordenação da ASA pelo estado de Minas Gerais)
ASA Paraíba - “Um aspecto importante nesses 15 anos pra mim é celebrar. É a celebração das conquistas, mas é também uma celebração que nos desafia para o futuro. Hoje a gente inicia uma luta em defesa das sementes crioulas que é tão importante pra fortalecer a agricultura familiar e que a gente vai, cada vez mais, precisar intensificar essa luta dentro dessa política de convivência com o Semiárido. A outra coisa também, na perspectiva do futuro, é que não dá pra conviver com o Semiárido se a gente também não luta pela terra. Então a luta pela terra é algo que a gente também precisa enfrentar por mais que tenham mudado as relações sociais no campo, mas a gente sabe que ainda tem a figura de posseiros. E também não perder de vista o nosso papel enquanto rede, enquanto organizações em defesa de uma assessoria técnica e sócio- organizativa na perspectiva da construção do conhecimento de valorização da agroecologia”.(Glória Araújo, do PATAC e da coordenação da ASA pelo estado da Paraíba)

ASA Pernambuco - “No Semiárido, antes da ASA, se tratava as coisas como combate à seca. As informações que se tinha do Semiárido eram informações de fora pra dentro e quando se vê o semiárido de fora pra dentro se vê da forma que quem é de fora quer mostrar. A terra de miseráveis, a terra de pessoas pobres, de menino buchudo, de açude seco, de vaca magra, de morte, de destruição, da caatinga seca, essa era a imagem que se queria mostrar. E por que se queria mostrar essa imagem? Pra fora e até mesmo pra quem vive no Semiárido entender isso e achar e aceitar que o Semiárido tinha essa situação. Mas se a gente fizer um paralelo do que era o Semiárido há 15 anos e o que Semiárido hoje com certeza vai ser muito fácil identificar as mudanças. Hoje eu já consigo compreender que as imagens do Semiárido não são mais de fora pra dentro. É uma imagem de dentro pra fora. E eu não coloco que a ASA foi a única responsável por isso, mas pra mim foi a grande responsável por essa transformação, de mostrar as famílias felizes, produzindo, com a cisterna para o consumo humano, com as implementações para produção”.(Manoel Barbosa dos Anjos, do Cecor e da coordenação da ASA pelo estado de Pernambuco)
ASA Potiguar (RN) - “Pra mim, a ASA tem a importância, de vir ao longo desses 15 anos, contribuindo com a mudança de um conjunto de paradigmas que se tinha, por exemplo, de que você precisava combater à seca. Você não convivia com o Semiárido. Assim como, a negação de algumas coisas, como a reforma agrária. E a gente traz esse debate, assim como outros debates de uma produção mais sustentável, de uma educação contextualizada. A ASA traz essa perspectiva de organização da sociedade civil pra lutar por direitos. Outra questão importante é a missão que a ASA tem e que conseguiu trabalhar ao longo desse período de uma década e meia, de conseguir unificar a sociedade civil em torno do bem comum, do acesso à agua enquanto direito, por exemplo, e criar uma identidade em nossa região, onde você tem dez estados, com culturas diferentes, mas você consegue unificar esses dez estados. Às vezes, a gente diz que a ASA congrega três mil organizações. Talvez três mil tenha o menor estado, que é o Rio Grande do Norte. Então você unifica ai dez mil microrregionais, cento e tantos municípios, centenas de associações. E a gente consegue unir tudo isso em torno de um projeto de convivência com o Semiárido, que se materializa através de uma ação, quer seja de cisternas, quer seja qualificando o nosso povo pra ir pros espaços de debate, de luta, por conquista de novos direitos. Essa identidade é, na minha concepção, um pouco de mística que existe na ASA, que consegue manter essa rede”. (Paulo Segundo, da Terra Viva e da coordenação executiva da ASA pelo estado do Rio Grande do Norte)

ASA Sergipe - “A gente sempre escuta nos nossos debates que a Articulação Semiárido vem proporcionando para o estado de Sergipe, para as comunidades rurais, uma transformação de vida. E esse sentimento não é só das pessoas que estão nas representações, mas nas bases. As comunidades têm esse sentimento. As comissões [municipais] têm esse sentimento de pertencimento, da importância, da grandiosidade que a Articulação Semiárido vem proporcionando para as famílias. E fazer parte desse contexto, dessa história, dessa transformação, é muito bom. No entanto, sabemos que os desafios estão postos e precisamos amadurecer cada vez mais, acumulando, refletindo pra avançar. E a ASA tem esse poder de mobilização, de chamar o povo pra refletir e construir caminhos que venham transformar a vida dos nossos agricultores e nossas agricultoras do Semiárido”. (Angelita Valadares, do SASAC e da coordenação executiva da ASA pelo estado de Sergipe)
Fórum Piauiense - “Acho que a ASA nesses 15 anos tem consolidado uma história de vida nova, uma história de conquistas, uma história de muita luta, mas também uma história de vitórias. Hoje nós temos uma articulação que luta pra garantir a sua identidade, o seu projeto político, dentro de uma rede que é diversa, mas que busca manter essa unidade dentro dessa diversidade. Nós fizemos recentemente um debate muito rico nesse sentido. O Fórum Piauiense de Convivência com o Semiárido já existia antes da criação da ASA. Desde 1984/1985 a gente já tinha o fórum como essa articulação em prol da convivência com o Semiárido. O Fórum sempre foi um espaço onde se encontram os desejos de várias manifestações políticas, de várias manifestações de conquistas e com a criação da ASA esse desejo de cisternar a possibilidade da convivência com o Semiárido se fortaleceu, sobretudo, porque houve uma unidade de concepção de entendimento, de que os fóruns estaduais, as ASAs estaduais, têm suas diversidades, mas que tem uma unidade de projeto político. Eu acho que o que dá hoje vida e sentido à ASA é exatamente essa sintonia de pensamentos diferentes, mas que comungam pra um mesmo objetivo, que é o bem da vida das pessoas, sobretudo, do povo do Semiárido brasileiro. (Carlos Humberto, da Cáritas Regional Piauí e da coordenação executiva da ASA pelo estado do Piauí)
Fórum Cearense - “A ASA traz a pauta do Semiárido, a pauta da convivência e consegue dar expressão política a essa pauta. Eu acho que isso é muito importante, tanto no campo da sociedade civil, porque ela congregou, juntou todo mundo, deu essa unidade numa diversidade enorme, mas acho que a gente conseguiu construir uma unidade que nos deu uma identidade pra dialogar com outros sujeitos. Pra dialogar, principalmente, com o governo no debate das políticas públicas. Eu acho que a gente tem que reafirmar isso, de que a ASA deu uma expressão à pauta da convivência, a pauta desse semiárido de possibilidades, desse outro olhar para o semiárido. Pra dentro da rede, no âmbito das pessoas, dos sujeitos desse lugar, eu acho que a nossa contribuição enquanto ASA é extraordinária no campo da autoestima, das pessoas acreditarem que a política pública pode sim acontecer, que ela pode chegar, que as pessoas são sujeitos de direitos. Também nesse aspecto, a gente contribuiu pra fortalecer a importância da sociedade civil nessa relação com as políticas públicas”. (Cristina Nascimento, do Cetra e da coordenação executiva da ASA pelo estado do Ceará) 

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